sábado, 26 de setembro de 2009

1984=2009?


Acabei agora mesmo de ler o 1984 de Orwell.
Este demorou mais tempo a ler do que os outros, talvez porque durante a leitura eu tenha passado por vários estados emocionais. Ora odiava o que lia, ora achava interessante, ora tudo me repugnava, ora entendia e até reconhecia a situação, ora esquecia o livro por uns dias, cansada do discurso tão intenso e por vezes denso...
Acho que ninguém pode dizer que adorou o livro... talvez porque ele nos traz uma realidade tão assustadora... Uma realidade que nós esperamos a todo o custo que não nos apanhe no percurso da nossa vida, mas que nós, no fundo, não temos a certeza de ser evitada.

Fui educada por uma mãe e um pai que fizeram questão de partilhar comigo as histórias de um regime onde viveram, o cada vez mais esquecido Estado Novo. Contaram-me, várias vezes até, como era viver na opressão, sem liberdade de expressão, na esperança que eu entendesse e desse valor à liberdade que existia quando nasci.
Cresci com duas pessoas que lutaram contra uma ditadura, que só por um momento de sorte muito grande não foram apanhadas pela PIDE, mais do que uma vez, que compravam livros numa livraria clandestina, porque não os podiam ler livremente, que escondiam cartazes e panfletos em casa, para a próxima manifestação, que chegaram a ter ficha na PIDE... que estiveram mesmo presentes e ajudaram no dia da revolução a tornar este país um país livre e melhor.
Não posso deixar de expressar o meu orgulho por um pai e uma mãe que lutaram para que nós, para que as gerações que vieram depois, pudéssemos viver num país livre... É curioso como esta palavra - livre - e como esta - liberdade - não têm qualquer significado para a nossa realidade, mas como há uns trinta e tal anos, e mais, eram as palavras mais pensadas, mais desejadas, mais amadas.

Acho que estamos a perder-nos num mundo que cada vez menos luta pelos ideais em que acredita, simplesmente porque deixámos de acreditar em coisa alguma.

Em véspera de eleições tento fazer o balanço desta campanha e acabo por perceber que não há balanço a fazer porque na verdade não houve campanha. Houve, sim senhora, políticos a criticarem gratuitamente outros políticos, com argumentos ridículos; ouviram-se novamente os mesmos discursos a dizerem as mesmas coisas... What the fuck! Mas já ninguém está farto disto? Eu, como eleitora, sinto-me ofendida por ser tratada como uma idiota!
Nenhum partido trouxe alguma coisa nova para estas eleições, nenhum! Nem o raio do BE que é o partido que conta com o meu voto e que só tem a sorte de contar comigo porque eu partilho dos ideais deles, apesar de estar desiludida com a sua prestação, igualzinha à dos outros todos! Será que eles próprios já não estão cansados de tanta insanidade, de tanta figura triste?

Acho que estamos todos dormentes, num estado de anestesia que me assusta... e que me faz exactamente lembrar o estado dos cidadãos que vivem em 1984, no regime do Big Brother, ou de muitos daqueles que nasceram no Estado Novo. Não está na altura de acordarmos? De tentarmos evitar que a história se repita?

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