terça-feira, 29 de setembro de 2009

Parabéns!


Mais do que qualquer outro livro na minha estante, os livros da Mafalda são aqueles que estão mais gastos, mais velhos e usados, menos apresentáveis. Mas também por isso, são aqueles que mais amados foram e serão!

Acho que li o primeiro tinha sete ou oito anos mas, claro, nessa altura eu ainda não entendia bem todas as piadas. No entanto, criei uma paixão imediata por uma garota de personalidade forte, que refilava por tudo e por nada, de valores sociais íntegros, cujo sonho era ser tradutora... Não foi nada difícil amá-la!
Ela era tudo no qual eu me transformei mais tarde!


O melhor de ler a Mafalda foi ir percebendo, aos poucos, ao longo dos anos (esta foi a leitura mais consistente em toda a minha vida, aquela a que eu sempre voltei), todas as piadas que o Quino escrevia com tanta consciência e punha na boca de uma garota pequena!
Perceber lentamente, à medida que a minha própria consciência se desenvolvia, o contexto politico-social da Mafalda foi o mais aliciante. E isso também foi algo que me fez crescer. Sim, eu cresci literalmente com a Mafalda, educada pelos seus ideais, pela sua bondade, rabugice...

Feliz cumpleaños, Mafalda! Te echo de menos!


sábado, 26 de setembro de 2009

1984=2009?


Acabei agora mesmo de ler o 1984 de Orwell.
Este demorou mais tempo a ler do que os outros, talvez porque durante a leitura eu tenha passado por vários estados emocionais. Ora odiava o que lia, ora achava interessante, ora tudo me repugnava, ora entendia e até reconhecia a situação, ora esquecia o livro por uns dias, cansada do discurso tão intenso e por vezes denso...
Acho que ninguém pode dizer que adorou o livro... talvez porque ele nos traz uma realidade tão assustadora... Uma realidade que nós esperamos a todo o custo que não nos apanhe no percurso da nossa vida, mas que nós, no fundo, não temos a certeza de ser evitada.

Fui educada por uma mãe e um pai que fizeram questão de partilhar comigo as histórias de um regime onde viveram, o cada vez mais esquecido Estado Novo. Contaram-me, várias vezes até, como era viver na opressão, sem liberdade de expressão, na esperança que eu entendesse e desse valor à liberdade que existia quando nasci.
Cresci com duas pessoas que lutaram contra uma ditadura, que só por um momento de sorte muito grande não foram apanhadas pela PIDE, mais do que uma vez, que compravam livros numa livraria clandestina, porque não os podiam ler livremente, que escondiam cartazes e panfletos em casa, para a próxima manifestação, que chegaram a ter ficha na PIDE... que estiveram mesmo presentes e ajudaram no dia da revolução a tornar este país um país livre e melhor.
Não posso deixar de expressar o meu orgulho por um pai e uma mãe que lutaram para que nós, para que as gerações que vieram depois, pudéssemos viver num país livre... É curioso como esta palavra - livre - e como esta - liberdade - não têm qualquer significado para a nossa realidade, mas como há uns trinta e tal anos, e mais, eram as palavras mais pensadas, mais desejadas, mais amadas.

Acho que estamos a perder-nos num mundo que cada vez menos luta pelos ideais em que acredita, simplesmente porque deixámos de acreditar em coisa alguma.

Em véspera de eleições tento fazer o balanço desta campanha e acabo por perceber que não há balanço a fazer porque na verdade não houve campanha. Houve, sim senhora, políticos a criticarem gratuitamente outros políticos, com argumentos ridículos; ouviram-se novamente os mesmos discursos a dizerem as mesmas coisas... What the fuck! Mas já ninguém está farto disto? Eu, como eleitora, sinto-me ofendida por ser tratada como uma idiota!
Nenhum partido trouxe alguma coisa nova para estas eleições, nenhum! Nem o raio do BE que é o partido que conta com o meu voto e que só tem a sorte de contar comigo porque eu partilho dos ideais deles, apesar de estar desiludida com a sua prestação, igualzinha à dos outros todos! Será que eles próprios já não estão cansados de tanta insanidade, de tanta figura triste?

Acho que estamos todos dormentes, num estado de anestesia que me assusta... e que me faz exactamente lembrar o estado dos cidadãos que vivem em 1984, no regime do Big Brother, ou de muitos daqueles que nasceram no Estado Novo. Não está na altura de acordarmos? De tentarmos evitar que a história se repita?

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Quando é que eu passei de Mademoiselle a Madame?

E já agora, por que é que ninguém me avisou de que já tinha chegado a esta fase?

O que é que acontece na cabeça das pessoas para que elas decidam que a mulher que têm à frente é uma Madame e não uma Mademoiselle? A sério, qual é o truque?
E já agora, let's make this personal: por que raio é que acham que EU tenho cara de Madame? Não tenho cabelos brancos (ou se tenho, eu lá lhes dou um sumiço! mas eu não disse que tinha!), não me visto à senhora (a minha mãe ainda diz que eu não devia andar toda maltrapilha), não uso sapatos de salto alto (e novamente, a minha mãe diz que aquelas sapatilhas já deviam ter ido para o lixo), não tenho malinha de mão, não tenho andar nem postura de senhora, o meu cabelo nunca está decente já que é ele que decide como acorda... ainda nem sequer cheguei aos 30!
Então alguém me diz por que é que os franceses me chamam Madame? É que eu nem sequer tenho ar de mulher respeitável! Bolas!
E, por favor, o argumento da aliança não cola! Ela nem tem aspecto de aliança e para além disso a senhora da padaria não a consegue ver por cima do balcão! Nem o senhor do supermercado... E sinceramente, ninguém olha para a mão da pessoa antes de decidir! Senão seriam ridículas as figuras que nós faríamos só para não ofendermos a susceptibilidade dos outros! "Ora, mostre lá a mãozinha esquerda para eu ver se merece um tratamento respeitável ou não, se faz favor!"

Eu cá sinto-me ultrajada! Quero ser Mademoiselle e pronto! É que o meu orgulho de gaja ressente-se de cada vez que um idiota qualquer escolhe tratar-me por Madame!
Madame? Madame é a tua mãe!

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

À descoberta: Shakespeare and Company



A Shakespeare and Company é uma livraria que fica mesmo no centro de Paris, em Saint-Michel, mesmo ali ao lado do Notre-Dame. Para mais informações, clicar aqui!
É uma livraria linda onde se podem encontrar livros novos, antigos ou em segunda mão, a maior parte em inglês. Quando se entra sente-se logo aquele cheiro a madeira e a livros velhos e a sabedoria e a palavras e ideias! É tão bom!


Mas a Shakespeare and Company não é só uma livraria! Também faz saraus, apoia artistas, recebe poetas e escritores que dormem na loja por algum tempo, enquanto estão em processo criativo!
Às vezes ouve-se tocar música, porque alguém decidiu simplesmente experimentar o piano que está no meio da loja...
Mas melhor do que tudo, sente-se sempre aquela liberdade fantástica de quem gosta de ler e aquelas conversas pontuais, entre leitores, enquanto discutem este ou aquele livro, esta ou aquela ideia...

Vale a pena ver!

P.S. E foi lá que eu fiz as minhas duas últimas aquisições: 1984, de George Orwell e Amelia Earhart, The Sound of Wings, de Mary S. Lovell.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Tenho saudades...

  1. do esparguete com salsichas e do bolo de chocolate que a Carolina fazia quando íamos para casa dela ao fim-de-semana para acabar algum trabalho da faculdade ou simplesmente just for fun;
  2. daquela mesa do horrível PN que era nossa e só nossa;
  3. de andar às cavalitas do meu pai quando era pequena;
  4. de adormecer ao colo da minha mãe, a chuchar no dedo, enquanto lhe dava palmadinhas nas costas;
  5. dos passeios à beira-rio que fazia na Expo, sozinha, ao fim da tarde;
  6. das alturas em que ia apanhar morangos com o Duque, o meu cão;
  7. do Duque, muitas, muitas;
  8. da gargalhada contagiosa da minha avó;
  9. do leite com chocolate que o meu pai fazia para mim, em Sendim, antes de sair para o trabalho;
  10. da minha Égua Azul Metalizada que me aturou durante um ano, em Göttingen;
  11. das bebedeiras do ano de Erasmus;
  12. do meu casaco comprido de malha cor de fogo que ardeu;
  13. dos desenhos animados passados no espaço, cujo nome, para minha infelicidade, esqueci;
  14. dos queques de chocolate com recheio de chocolate derretido do bar da esplanada;
  15. do sol que entrava pela janela a dentro do meu antigo quarto;
  16. do sol de Berlim, tão acolhedor;
  17. do restaurante sírio em Berlim;
  18. dos D.Rodrigos embrulhados em prata colorida que comia no Algarve:
  19. do meu grupo de teatro da faculdade;
  20. do palco;
  21. das aulas da Boucherie;
  22. das uvas das nossas vinhas;
  23. da primeira vez que li o Fio da Navalha;
  24. da primeira vez que ouvi o Wasteland;
  25. e daquela coisa e mais aquela que tenho dentro de mim mas que esqueci.